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"MONÓLOGO DA DESPEDIDA"



Enchi uma mala com todo nada que tinha,
botei o pé na estrada desta vida esburacada,
sem acostamento pra descansar.

Fui pro mundo,me lancei,
sai deste canto onde o canto 
do sabiá laranjeira não deu fruto.

Antes de partir,passei na bica,
enchi uma bexiga d'água 
pra molhar o cantar deste infeliz andarilho.

Depois passei ma igreja,
pedi as bençãos de Deus,
água benta pro padre,
pros maus do caminho espantar,
e um naco de vinho pras noites frias esquentar.

Levarei comigo a viola, 
eterna companheira de solidão,
pra disfarçar a saudade
no dedilhar da canção,
esta que trago no peito,
junto do coração.

Sem muito alarido,vou sair sem alarde,
assim na boca da noite,bem no final da tarde.
Vou sem alvoroço,logo depois do almoço.

Vou por o pé na estrada de chão,
pé descalço no encalço da felicidade,
vou pra outras bandas além do horizonte,e até,
já decidi vou pro que der e vier. 

Vou buscar minha metade bem longe deste lugar,
outra quimera ,outro quelônio,
chega de pesadelo,vou buscar o meu sonho.

Vou me embora aqui não fico mais,
já deu pra mim,a saudade judia demais,
vou voltar pra Minas Gerais.

Rever o gado nos pastos,
o cachorro latindo faceiro,
o riacho correndo ligeiro,
pra pular na cachoeira.

Abraçar os amigos de ontem,
as meninas,moças formadas,
vou regar minha esperança,
encontrar minha amada.

Quando enfim amanhecer,
eu lá estiver chegado,
vou acalmar a emoção,
desacelerar este velho companheiro,
levantar as mãos e agradecer.

Valeu ter vivido cada instante,
mesmo por caminhos distantes,errantes ,
vagantes só pra ter a chance de regressar.

Agora cheguei onde devia estar,
terra de amores e amares,
berço cheirando terra fresca,
onde o mar nunca pisou.

Aqui é meu chão,
é meu céu ,minha realização,
é meu pedaço de paraíso,
seu Moço,
Minas é meu Sertão.


Reginaldo.


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