quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Voyeur

 



 

Decanta de canto de olho,

No intento recolhe

Encanto aos poucos.

Como louco delira

No que prefere silêncio

Entre gemidos e suspiros

O suor tempera

E anseia pelo gozo

Que o espera.

 

Por trás da cortina

A silhueta perfeita

Seduz e deleita

Entre lenções macios.

O desafio é resistir

A lascívia profana

Entregue na cama

Enquanto expele lava

Vulcão desperto

 

No ponto certo

Toques de dedos

Aguçam os sentidos

Já sem sentido

Se rende

Se desarma

Se desprende

Vencido pela volúpia

 

Ofegante

Se ajeita

Passa o lenço no rosto,

Ainda meio roto

Arruma o nó da gravata

Paga o dizimo

Recolhe seu egoísmo

Fecha a cortina

Sai sem alarde

E some

Além da esquina.

 

José Regi

 

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Choque de realidade

 



 

 

É da natureza do homem,

O delírio

O superlativo

O exagero

É isso que nos consome

O tempo e a vida

 

Essa nossa teimosia

Em complicar

E inventar dificuldades

Nos cega,

Nos impele o voo

Nos encurta o caminho

 

Quando se percebe

Que o simples é o melhor

Dos acessos...

Já nos perdemos na rota

Sem possibilidade de retorno´

 

É da natureza

Simplificar

O não inventar

O não dificultar

É da natureza cumprir

O combinado

 

E nos jardins dos dias

Nascer apenas

O que for semeado

A natureza é simples...

O homem

É que é complicado.

 

José Regi

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Incursões

 

 



 

 

Perambulei por vias escuras,

A procura

De um tal amor eterno.

Fui do paraíso ao inferno

E retornei ainda mais

Distante dele

 

Pouco a pouco

Essa obsessão

Revirou a vida

Mudou o pensar

Os sonhos

E se fez verso

 

Fui ao passado

Ainda morno,

Revirei o entorno

E ele não estava lá.

Do penhasco

Onde o mirante

Convidava ao voo cego

O escuro do vale

Não o escondia...

 

Estava em outra cercania,

Não havia o encontro perene

E o sossego.

Perdido andava em circulos

Sem perceber...

 

Mergulhei muitas vezes

No obscuro prazer,

No proibido,

Não convencional...

Mas ele não estava lá.

 

Retornei ao limbo da existência,

Da solidão,

Pena perpétua,

A condenação

Minha procura não finda

 

Inda que goze

Efêmeros instantes.

Sigo a sina,

Volto a cena,

E o cenário não muda...

Ele também

não está aqui.

 

José Regi

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Inquietudes temporais

 



 

 

Percebe-se no anteparo do olhar

Um resquício de angústia

Na soleira de entrada.

No tapete uma mensagem de boas vindas

 

A casa aparentemente arrumada

Dá uma ideia de organização

Emocional equilibrada

Qual nada! Ele é humano!

 

Dessa forma

O sorriso externo

Quase Monalisa, disfarça.

Mistérios de uma alma incompleta.

 

A conjuração decepcionante de fatos

Situações contrárias ao bem estar

Roubam a paz dos desertos

E o tempo do poeta.

 

José Regi

 

 

 

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Erupção

 



 

Teus olhos azuis ensolarados

Acendem o luzeiro,

Exala calor teus desejos vindouros

Para o espelho que lhe nega um sorriso

 

Assina no vidro embaçado do box

Um verso explicito de escárnio,

Água fria do banho não abranda

O incêndio interior que ferve

 

Volúpia em carne viva

Dedos ávidos aventureiros

Gemidos suprimidos

Num gozo quase silêncio

 

Tua solidão suscita fuga

Teu desejo rompe gaiolas

Efêmeros oásis

Possibilitam o voo solo

 

Onde desagua por inteiro

Teus rios de lava

Onde lavas a alma

E volta a sonhar.

 

José Regi  


 

sábado, 29 de outubro de 2022

ESPERANÇAR


 

Tempo vil,de amor subjulgado,pobre 

Exalta o ódio semeado a esmo e solto  

Corações de pedra, quase nunca nobre   

Sarcástico,egoísta,desumano e louco  

 

Ele sempre esperançou nova estação 

Em silêncio casto,na flora da calçada 

Escolheu no rimário sacro da emoção 

O limear tempo gentil doutra florada 

 

O verbo conjugado no silêncio opaco 

Reverbera em um desejo celere novo 

Onde o amor em plenitude aconteça. 

 

Segue o poeta a estação das calçadas 

Na insistente primavera sem tempo 

Onde o ódio morra e o amor prevaleça. 

 

José Regi 

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Sorriso em branco e preto

 



Uma foto guardada daquele dia feliz

Entre abraços e afagos o tempo sorria

E o amor enfim via a luz romper a raiz

Para dar sentido real enquanto partia

 

Queria um verso intenso que falasse de amor

Uma poesia, uma trova ou quiçá um soneto

Algo que destilasse, decantasse e aliviasse a dor

E espalhar cor neste sorriso em branco e preto

 

Hoje lembro olhando aquele retrato,

Do sentimento que nos abarcava

Um tanto real e um muito abstrato

 

Naquele dia ao findar da tarde o adeus

Você se pôs qual sol, antes que a noite

Escurecesse de vez nos olhos meus.

 

[José Regi]

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

No trem da vida

 



 

Aprender lições com tempo

Com o vento do outono.

O que não se pode levar

Deixar a margem das vias 

 

Pois todo excesso é sobra

E peso extra impele o voo,

Tapa a visão para o limite

Do além horizonte

 

Viver é verbo em tempo

E conjugação

A vida é substantivo desse

Presente

 

Ao criarmos calendários

Invertemos a lógica,

Subvertemos a razão

E nos fragmentamos

 

Nesta feita, impusemo-nos

A pressa desnecessária

Para o gozo dessa viagem

Só de ida.

 

 

José Regi

 

 

 

 

MEDOS E ENCANTOS

    Tenho medo daquilo que conheço, dos buracos por onde andei, dos passos e rastros deixados nos medos que descartei. Que o mundo me ...