quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Sorriso em branco e preto

 



Uma foto guardada daquele dia feliz

Entre abraços e afagos o tempo sorria

E o amor enfim via a luz romper a raiz

Para dar sentido real enquanto partia

 

Queria um verso intenso que falasse de amor

Uma poesia, uma trova ou quiçá um soneto

Algo que destilasse, decantasse e aliviasse a dor

E espalhar cor neste sorriso em branco e preto

 

Hoje lembro olhando aquele retrato,

Do sentimento que nos abarcava

Um tanto real e um muito abstrato

 

Naquele dia ao findar da tarde o adeus

Você se pôs qual sol, antes que a noite

Escurecesse de vez nos olhos meus.

 

[José Regi]

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

No trem da vida

 



 

Aprender lições com tempo

Com o vento do outono.

O que não se pode levar

Deixar a margem das vias 

 

Pois todo excesso é sobra

E peso extra impele o voo,

Tapa a visão para o limite

Do além horizonte

 

Viver é verbo em tempo

E conjugação

A vida é substantivo desse

Presente

 

Ao criarmos calendários

Invertemos a lógica,

Subvertemos a razão

E nos fragmentamos

 

Nesta feita, impusemo-nos

A pressa desnecessária

Para o gozo dessa viagem

Só de ida.

 

 

José Regi

 

 

 

 

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Temporã

 



 

 

Flor de trepadeira

Não depende de estação

Basta lhe mostrar o céu

Que ela sobe em direção

Toda vez que ela floresce

Tem no campo uma explosão

 

Forrageiras, campineiras

Flor de encostas e ribeirão

Espalhadas pelos olhos

Causa espanto e comoção

Pois no embalo da candura

Flores brancas se depuram

No vergel a imensidão

 

Para semear silêncio

É preciso precisão

Um pedido incontido

Ao deus da dissipação

Vento tempo de outono

No venal da hibernação

É preciso paciência

No sentido e essência

Para ouvir tanta canção.

 

José Regi

 

 

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Tempo aberto lá fora

 



 

 

Toda escuridão

Absorver

Sorver o silêncio

E hibernar

Para o tempo

Dar asas

 

Há um desejo de fuga

Na interiorização

Saltar dos penhascos

Ignorar a dor

Desfazer da morte

É entrega e desencontro

 

Cada amigo que silencia

Cada ausência na foto

É um sol apagado

Um sorriso faltando

Um legado,

Uma lacuna

 

Aquele abraço adiado

O eu te amo não dito

Causando conflito

Com a paz falseada

É um maldito dilema

 

O poeta não sabe falar

Da morte,

Sem molhar o caderno,

Sem borrar o poema

Que inutilmente

Tenta florear os adeuses

Mal digeridos.

 

Seus olhos de mar

De azul intenso

É um fractal

De ilusão

Escondendo temporal.

 

José Regi

 

  

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Dias frios

 



 

Recolhe asas

Se fecha em gaiolas

Um livro do Leminski

Um café quente

E na mente um desejo...

Hibernação.

 

Hibernado decanta

Um cheiro vindouro

Esperança de cores

Degusta outros sabores

Entre o verso e o reverso

Da página seguinte...

Sabendo tem teto

Para um voo seguro.

 

Em dias frios

Se encolhe fetal

E na solidão do silêncio

Um colo é anseio.

Nem uma palavra

Apenas o olhar

Discursando afeto

 

Uma vontade de abraço

Da juntação

Da companhia

Na poesia do tempo,

Que deixa saudade

Pendurada na parede,

Em preto e branco

 

Pretéritos

Presentes na ausência

Real sentida

Falta luz para as sombras

De agora,

Sol para esse dia frio...

Enquanto sobra

Silêncio e espera.

 

 

José Regi

 

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Temporã

 



 

 

Flor de trepadeira

Não depende de estação

Basta lhe mostrar o céu

Que ela sobe em direção

Toda vez que ela floresce

Tem no campo uma explosão

Forrageiras, campineiras

Flor de encostas e ribeirão

Espalhadas pelos olhos

Causa espanto e comoção

Pois no embalo da candura

Flores brancas se depuram

No vergel a imensidão

Para semear silêncio

É preciso precisão

Um pedido incontido

Ao deus da dissipação

Vento tempo de outono

No venal da hibernação

É preciso paciência

No sentido e essência

Para ouvir tanta canção.

 

José Regi

Solidão não é estar só, é estar vazio.

 



 

 

E foi no silêncio

Que encontrei,

Minha paz guerreira,

Entre trincheiras

Cavadas a dedo

 

Foi ali que enlouqueci

Ao som de um quase nada

Margeando a esmo

A estrada

Desse vazio

 

Foi assim a epopeia

A desventura absurda

Num abraço imaginário

Que entendi o sentido

Da solidão

 

Encontrei a mim

Perdido entre o jardim

De inverno, onde

Um frio quase terno

Aquecia as ausências

 

Não havia um sussurro

Nem frases gritando nos muros

Palavras de ordem anarquistas.

O que havia, era mudo,

Sobretudo cego e surdo...

 

Havia a essência reverberando

Águas paradas,

Refletindo sombras

E no espelho

Um sorriso outro

Que não esse de agora,

Esboçava contentamento.

 

A procura acabara

Findara a jornada

A passagem pênsil

Indicava fim.

Enfim...O silêncio.

 

José Regi

 

 

 

 

 

MEDOS E ENCANTOS

    Tenho medo daquilo que conheço, dos buracos por onde andei, dos passos e rastros deixados nos medos que descartei. Que o mundo me ...