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Saudade é tempo dizendo que não acabou

      O amor é um espanto Um escárnio vivo. É vento soprando Sobre encantos cativos. Fogo de chama forte Encandeia os sentidos Dói como arame farpado No tempo de ter vivido.   Saudade é um escracho E tempo tirando perfume Do vaso de enfeite Com flores de plástico. Recende como incenso Em tempo de pouco lume. Em noites de pouco facho.   Paixão é lenha seca De fácil combustão Dois corpos suados Em noites de verão. paixão que vira amor Por certo vira saudade Em tempo de adeus tardio No átimo de uma maldade.   Bom encontro é de dois Já dizia a canção Amor e paixão é pra agora. Saudade... Saudade... É pra depois.   José Regi
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Menino do olho azul

Jaz infanta estripulia. Ainda cedo corria pra rua o menino, Não sabia nada de limites E o mundo lhe era um convite a campear. Explorar além do horizonte Da janela da sala Da cercania entorno Da margem da velha estrada. Olhos azuis de céu Asas nos pés Era quase um semideus Com todos os seus “eus’ Ainda incubado De voos e sonhos. Cismas várias Não eximia os anseios, Havia de ser grande Já previa a cigana Que vendia engodos em troca de migalhas Na esquina da rua do centro. Desbravador solitário Num relicário de teimosia Esculpido a força No tempo. Jaz infanta estripulia Na sucursal de ontem Das gerais do sul... Hoje homem feito adulto Inventa versos como indulto Para proteger aquele menino do olho azul. José Regi

Enfim...

      Dedico a vós o meu silêncio A inquietude abismada Dos meus versos Esses voos ora preteridos Deixo assim subentendido Em pousos dantes...Arremetidos.   Vasto é a amplidão Desse universo mudo Eximido de eco Ou retorno Onde o exilio É silente contuso.   Corto os punhos, Dramático, patético Suicídio poético Antes, porém, rascunho A sangue quente A dor corrente Na rubra tarde que cai Aos pés da noite eterna.   Não tenho asas, Nem pernas Nem plumas Ou penas Que sentenciam o fim No crepúsculo.   Há um último impulso Antes da queda Um último plano Ante o medo da escuridão. Respira afoito Um derradeiro pulso...   Não há mais nada Nunca houve,   Nunca esteve. Nunca foi... Não há mais tempo! Poema escrito Sobre areia fina, Só quem lê É o vento.   José Regi    

  A Fé é uma planta frágil Que se rega com gotículas De esperança. É acreditar no impossível, No imponderável, É andar na contramão da lógica, Da realidade É crer no invisível, na uniciência No divinal.   Ter fé é cultivar a ingenuidade De uma criança, A fragilidade de uma mariposa Entorno da luz. É entender possível Quando tudo Se mostra ao contrário.   Ter fé É pegar no rosário e pedir Como quem esfrega Uma lãmpada mágica. É não aceitar. É a negação de si Nas entrelinhas da sua Propria incapacidade.   É acreditar numa utopia Na poesia do inédito No remédio amargo No apelo ao vento Ter fé é orar em silêncio Durante um temporal...   Ansear desvios, Piquetes e atalhos Na estrada da vida. É a dureza do chão A excassez do pão É o calo das mãos   Ter fé é não ter explicação É se nortear pelo intímo Se entregar a uma filosofia É sacrifício de vida Alienação, Aliança E A...

Guardado

      O que me prende não são cercas. Acerca disso, encarcero-me. Grades, gaiolas e asas de cera No interior quase deserto de mim.   Tento a teimosia Da brota, do florescer Para assim ser Pouso de insetos melíferos.   Nos outonos finais Invento quimeras Sobre folhas mortas Soltas ao vento da estação.   No distante, não obstante Uma araucária solitária No estio cumpri (no imperativo) Sua regra sina.   Livre de qualquer amarra Arraigada, Sentenciada Ao lugar da queda.     Eu que posso voar Me prendo qual andrajos velhos No arame farpado No varal do tempo.   Sob calendários, agendas Horários e itinerários Ocultos nas entrelinhas Das minhas utopias.     José Regi

Delírios noturnos

      Nunca provou o sal da barranca, Ainda que em delírio houvesse Mergulhos obscuros Em águas mornas salobras... Nunca lambuzou-me em teu suor.   Ainda que desejo fosse Nunca tramou meu corpo Em tuas teias sedosas, Nunca acordou abruptamente ao meu lado o fegante e molhada.   Sempre manteve o platonismo E o egoísmo só pra si. A volúpia é utopia E a lascívia que imaginava São devaneios de eras... Um relicário profundo Guardado no fundo Do baú de quimeras.   Cartas de amor abortadas, Amor monólogo unilateral Num prólogo egoísta Do seu eu... Um dia que ela inventou E que nunca aconteceu.   José Regi

Viajante

  Um corpo dança ao som do relógio Fitando o sol que não tarda a nascer Presságio de luz no alto do pódio Gaiolas abertas ao amanhecer   Aqui no lado de dentro do silêncio Paredes brancas maculam-me a paz Equilibro-me no arame fardado pênsil No aguardo da brisa breve, mansa e fugaz   Um canto lírico ecoa no instante agora A vida bate asas pela janela dos olhos Pássaro de migragem se indo embora Entre flores noturnas de época e afolhos   Apenas o canto livre das asas se ouve No longe quase distante de tudo daqui Encarcerado atrás dos caixilhos, ouse Versar sobre avesso da fuga enfim...   Voos findos em oníricos oásis Vida e morte, uma quase miragem Entre o horizonte e a verticalidade É o sono eterno ou seguir a viagem.   José Regi