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Mostrando postagens de 2024

  Fé é uma planta frágil Regadas a gotículas De esperança. É acreditar no impossível, No imponderável, andar na contramão da lógica Da realidade e crer no invisível, na onisciência, No divinal.   Ter fé é cultivar a ingenuidade De uma criança, A fragilidade de uma mariposa no Entorno da luz. É entender possível Quando tudo Se mostra ao contrário.   Ter fé É pegar no rosário e pedir Como quem esfrega Uma lâmpada mágica. É não aceitar. É a negação de si Nas entrelinhas da sua Própria incapacidade.   É acreditar numa utopia Na poesia do inédito No remédio amargo No apelo ao vento Ter fé é orar em silêncio Durante um temporal... Ansiar desvios, Piquetes e atalhos Na estrada da vida.   É a dureza do chão A escassez do pão É o calo das mãos Ter fé é não ter explicação É se nortear pelo íntimo Se entregar a uma filosofia É sacrifício de vida Alienação, Aliança E Abnegação ...

Guardado

      O que me prende não são cercas. Acerca disso, encarcero-me. Grades, gaiolas e asas de cera No interior quase deserto de mim.   Tento a teimosia Da brota, do florescer Para assim ser Pouso de insetos melíferos.   Nos outonos finais Invento quimeras Sobre folhas mortas Soltas ao vento da estação.   No distante, não obstante Uma araucária solitária No estio cumpri (no imperativo) Sua regra sina.   Livre de qualquer amarra Arraigada, Sentenciada Ao lugar da queda.     Eu que posso voar Me prendo qual andrajos velhos No arame farpado No varal do tempo.   Sob calendários, agendas Horários e itinerários Ocultos nas entrelinhas Das minhas utopias.     José Regi

Delírios noturnos

      Nunca provou o sal da barranca, Ainda que em delírio houvesse Mergulhos obscuros Em águas mornas salobras... Nunca lambuzou-me em teu suor.   Ainda que desejo fosse Nunca tramou meu corpo Em tuas teias sedosas, Nunca acordou abruptamente ao meu lado o fegante e molhada.   Sempre manteve o platonismo E o egoísmo só pra si. A volúpia é utopia E a lascívia que imaginava São devaneios de eras... Um relicário profundo Guardado no fundo Do baú de quimeras.   Cartas de amor abortadas, Amor monólogo unilateral Num prólogo egoísta Do seu eu... Um dia que ela inventou E que nunca aconteceu.   José Regi

Viajante

  Um corpo dança ao som do relógio Fitando o sol que não tarda a nascer Presságio de luz no alto do pódio Gaiolas abertas ao amanhecer   Aqui no lado de dentro do silêncio Paredes brancas maculam-me a paz Equilibro-me no arame fardado pênsil No aguardo da brisa breve, mansa e fugaz   Um canto lírico ecoa no instante agora A vida bate asas pela janela dos olhos Pássaro de migragem se indo embora Entre flores noturnas de época e afolhos   Apenas o canto livre das asas se ouve No longe quase distante de tudo daqui Encarcerado atrás dos caixilhos, ouse Versar sobre avesso da fuga enfim...   Voos findos em oníricos oásis Vida e morte, uma quase miragem Entre o horizonte e a verticalidade É o sono eterno ou seguir a viagem.   José Regi