quinta-feira, 28 de novembro de 2024

 


A Fé é uma planta frágil

Que se rega com gotículas

De esperança.

É acreditar no impossível,

No imponderável,

É andar na contramão da lógica,

Da realidade

É crer no invisível, na uniciência

No divinal.

 

Ter fé é cultivar a ingenuidade

De uma criança,

A fragilidade de uma mariposa

Entorno da luz.

É entender possível

Quando tudo

Se mostra ao contrário.

 

Ter fé

É pegar no rosário e pedir

Como quem esfrega

Uma lãmpada mágica.

É não aceitar.

É a negação de si

Nas entrelinhas da sua

Propria incapacidade.

 

É acreditar numa utopia

Na poesia do inédito

No remédio amargo

No apelo ao vento

Ter fé é orar em silêncio

Durante um temporal...

 

Ansear desvios,

Piquetes e atalhos

Na estrada da vida.

É a dureza do chão

A excassez do pão

É o calo das mãos

 

Ter fé é não ter explicação

É se nortear pelo intímo

Se entregar a uma filosofia

É sacrifício de vida

Alienação, Aliança

E Abnegação

 

Ter fé é escrever torto

Em linhas retas

E não contestar.

Andar na contramão da seta

É ver razão e sentido

No projeto gêneses

É ter Deus...

E isso lhe bastar.

 

José Regi 28/11/24

sábado, 26 de outubro de 2024

Guardado

 



 

 

O que me prende não são cercas.

Acerca disso, encarcero-me.

Grades, gaiolas e asas de cera

No interior quase deserto de mim.

 

Tento a teimosia

Da brota, do florescer

Para assim ser

Pouso de insetos melíferos.

 

Nos outonos finais

Invento quimeras

Sobre folhas mortas

Soltas ao vento da estação.

 

No distante, não obstante

Uma araucária solitária

No estio cumpri (no imperativo)

Sua regra sina.

 

Livre de qualquer amarra

Arraigada,

Sentenciada

Ao lugar da queda.  

 

Eu que posso voar

Me prendo qual andrajos velhos

No arame farpado

No varal do tempo.

 

Sob calendários, agendas

Horários e itinerários

Ocultos nas entrelinhas

Das minhas utopias.

 

 

José Regi

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Delírios noturnos


 

 


 

Nunca provou o sal da barranca,

Ainda que em delírio houvesse

Mergulhos obscuros

Em águas mornas salobras...

Nunca lambuzou-me em teu suor.

 

Ainda que desejo fosse

Nunca tramou meu corpo

Em tuas teias sedosas,

Nunca acordou abruptamente

ao meu lado ofegante e molhada.

 

Sempre manteve o platonismo

E o egoísmo só pra si.


A volúpia é utopia

E a lascívia que imaginava

São devaneios de eras...

Um relicário profundo

Guardado no fundo

Do baú de quimeras.

 

Cartas de amor abortadas,

Amor monólogo unilateral

Num prólogo egoísta

Do seu eu...

Um dia que ela inventou

E que nunca aconteceu.

 

José Regi

sábado, 7 de setembro de 2024

Viajante

 


Um corpo dança ao som do relógio

Fitando o sol que não tarda a nascer

Presságio de luz no alto do pódio

Gaiolas abertas ao amanhecer

 

Aqui no lado de dentro do silêncio

Paredes brancas maculam-me a paz

Equilibro-me no arame fardado pênsil

No aguardo da brisa breve, mansa e fugaz

 

Um canto lírico ecoa no instante agora

A vida bate asas pela janela dos olhos

Pássaro de migragem se indo embora

Entre flores noturnas de época e afolhos

 

Apenas o canto livre das asas se ouve

No longe quase distante de tudo daqui

Encarcerado atrás dos caixilhos, ouse

Versar sobre avesso da fuga enfim...

 

Voos findos em oníricos oásis

Vida e morte, uma quase miragem

Entre o horizonte e a verticalidade

É o sono eterno ou seguir a viagem.

 

José Regi

 

  A Fé é uma planta frágil Que se rega com gotículas De esperança. É acreditar no impossível, No imponderável, É andar na contra...