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Mostrando postagens de 2023

MEDOS E ENCANTOS

    Tenho medo daquilo que conheço, dos buracos por onde andei, dos passos e rastros deixados nos medos que descartei. Que o mundo me livre dos que me encaram olho no olho, sei das insanidades que esse humano é capaz, tão voraz como uma formiga cortadeira, que encontra o mel mais doce no pé espinhento de uma roseira. Vai devastar-me a vivacidade e sugar sem dó minhas defesas. Por isso o medo evidente dessa gente que bate frente a frente nos dias que se faz realidade. Atrai-me o desconhecido, energias e emoções, deuses sacros e pagãos, credos e outras seitas onde deleitas a imaginação. Atiça-me a verdade dos desejos ocultos na proporção exata do encanto, onde o espanto equivale a vontade de entender o incompreensível, a magia das artes abstratas que retrata com fidelidade a alquimia dos mistérios, tão gloriosos, quanto gozosos. Tenho dedicado atenção as rezas e as manifestações em línguas por curiosidade minha. Isso é parte dos encantos que guardo em segredo sob s...

Incompreensão

    Um alarido triste entre os viventes Prenúncio de sofrimento abissal Esse ar parado, quase atemporal E essa vontade de chorar iminente   Decifras o silêncio dessa manhã cinza Não compreendes a quietude da citara O sabor amargo do café na xícara E a dor da ausência que não cicatriza   Olhos distantes, lágrimas caídas   Não há mensuras capaz de medir A dor imposta por essa partida.   Chegas a duvidar da própria crença Ante ao Tamanho desse encurtamento E do vazio que agora se apresenta.   José Regi

Volúpia

    Eu, que desejo O néctar inebriante Do teu beijo E depois... Lambuzar-me No abuso desse Louco imaginar Quero tocá-la E sentir na ponta dos dedos Ao calor que emana Dos teus confins... Enfim me perder Na sinuosidade De tuas curvas, Deslizar e cair Na luxúria E por fim E morrer no teu gozo.   José Regi    

Poema para instante agora

  No condicional... Não tem que ser assim superficial Essa aventura eventual No tempo de um temporal Que caiu no fim Da tarde de ontem   No condicional... Há que se ter o mergulho No abissal sentido pleno O respirar terra molhada Dá sensação de estar aqui Embora em viagem Insólita ao seu interior.   No condicional... Cada toque Cada cheiro Cada gosto E em cada olhar Um filtro maxificador Para cada micro sentido   Ter no condicional, Alegrias aleatórias Sorrisos espontâneos Sentir-se bem Na simplicidade do instante Ante a complexidade Vital que faz a roda girar.   No condicional... Regar as flores Atenuar as dores Sentir os sabores Nos estertores da vida Enquanto respira esperança Aquela criança teimosa De ontem.   José Regi  

Flores do Manacá

  O manacá da serra Que plantei na terra, Do fundo do meu quintal, Amanheceu sorrindo De tão lindo Que floresceu.   O perfume é outro lume Tão igual nunca senti Tem cheiro de esperança Quebrando a realidade Um diferencial De tudo que já vivi.   Cores vivas que encantam Chamariz a bichos tantos... Pássaros, abelhas, joaninhas Pousam e enfeitiçam Esse meu dês-pertencer   Esse meu desacreditar Que esses olhos jardineiros Colheram lá no terreiro Nesse início de manhã Nas flores do Manacá.   José Regi      

Nós dois

    Eu e você, somos um, Na fluidez desses delírios Um mergulho sacana Corpo e pele Nosso prazer é colírio, Verbo e carne profana Somos mar em profusão Na confusão de sentidos Na chuva morna desse Temporal de tesão...   É você, Minha estrada sem rota Curvas de perdição Corpo suado na porta Volúpia, erupção Liquida e sedenta Tateando oculta fonte Paraíso adentras, Delimita horizontes   É assim cascata Quente de jorro farto Entrega lasciva Entrelaçar de corpos... Fusão. És calmaria e arrebentação Toda forma de querer És fogo Paixão Sob a égide De Eros e Psyche.   José Regi      

Braile

      Cego, Invento passos Absorvo sabores Tateio sentidos Com a ponta da língua   Abarco Teu corpo nos braços Amasso, Beijo e cheiro Tua essência   Por inteiro, Me entrego aos teus delírios Te ofereço calafrios no pouso Enquanto voas Suave e saciado gozo.   José Regi

Tirando você, não tenho carências

  Gosto da seda, Na maciez dos seus lábios, Gosto da sua ingênua sedução, Seu olhar buscante, A têz cheirando lascívia, A terceira visão.   Gosto da entrega, Onde você se esfrega em mim, Do início sem fim E se derrama sobre a cama...   Suas vestes de cetin, Seu jeito, Seu calor, O aroma especifico, Seu tesão, Meu amor.     José Regi

Desagravo

      Não tem como, Ante aquele que feriu, Não soltar o verbo... E manda-lo a puta que o pariu!   A vida ensina perdoar Que nós somos todos falhos. Mas somos humanos porra! Perdoar é o caralho!   Olho por olho e dente por dente Pra essa gente brucutu. E quem achar que é diferente... Que vá tomar no cu.   Que direitos pensam ter De achar que podem mais Em pensar que liberdade É ferir os seus iguais?   Minha língua tem veneno Tão letal quanto cicuta. Se não sabe respeitar A frase é bem curta...   Puta que pariu, Caralho... Vai tomar no cu Filho da puta!   José Regi

Kurumin

    Eu sou um tanto de tantos , Pouco, muitos, quase nada Sou o sal do pranto Que na ribeira deságua Aquele barco singrante Rumo ao mirante Sou água do igapó Na melodia da mata Sou a nota dó Ao sol que desata.   Quisera ser mais... Que a música do vento No templo aberto Desse tempo fechado A lâmina cega do machado O golpe sem efeito do facão Curupira, caipora, Anhangá ou caiçara... Proteção O que vela, Que zela e protege O limite, a cerca Mãe d’água e A tabua de salvação.   Sou a lei da mata Sou lenda, folclore A estação que colore A tarde que desce Silente... Sou índio Nativo Sou dono de nada Sou a estrada O buraco na via Sou o que havia Antes de você chegar Pelo mar torrente... Sou um tanto de tantos, Pouco, muitos, quase nada... Sou gente.   José Regi

Ofertório

      Por hoje te ofereço Esse meu jeito torto Minha ignorância Meu pouco saber Minha mineirice Minha verdade Nua e crua   Te oferto o que juntei... Um pouco de Nietzche Uma dose de Maquiavel Uma porção de Poe Com pitadas de Neruda E um pé de arruda Que plantei no jardim   Ainda te ofereço meus medos Meus credos pagãos Meu corpo dormente Os calos das mãos Os pés descalços E o corpo nu   Me ofereço assim Sem vestimenta nobre Em palavras desprovidas De qualquer defesa Me ofereço por completo E inteireza Desnudo de todo ter, Mas certo de todo meu ser.     José Regi Ilustração- Michael Alfano

Sem sentido

    A poema sem sentido Não causa arrepio na pele. Para sê-lo, Há que haver um canal Revolver a lama A inquietação Que cause por si só O desejo de gritar.   De fazer mimica Sozinho De olhar para o nada E imaginar Em silêncio Uma sensação De alívio.   Uma quase morte Num parto A fórceps Arrancando a dor E dela um arremedo   De vida.   Nesse sentido Porém, palavras Tem se afastado Como pássaros ariscos.   As mãos rabiscam Versetos desconexos, Sem poesia Quase sem sentido Que a teimosia Insiste em poetizar...