Tenho medo daquilo que conheço, dos buracos por onde andei,
dos passos e rastros deixados nos medos que descartei.
Que o mundo me livre dos que me encaram olho no olho,
sei das insanidades que esse humano é capaz, tão voraz como uma formiga
cortadeira, que encontra o mel mais doce no pé espinhento de uma roseira.
Vai devastar-me a vivacidade e sugar sem dó minhas
defesas. Por isso o medo evidente dessa gente que bate frente a frente nos dias
que se faz realidade.
Atrai-me o desconhecido, energias e emoções, deuses
sacros e pagãos, credos e outras seitas onde deleitas a imaginação.
Atiça-me a verdade dos desejos ocultos na proporção
exata do encanto, onde o espanto equivale a vontade de entender o incompreensível,
a magia das artes abstratas que retrata com fidelidade a alquimia dos mistérios,
tão gloriosos, quanto gozosos.
Tenho dedicado atenção as rezas e as manifestações em línguas
por curiosidade minha. Isso é parte dos encantos que guardo em segredo sob sete
chaves.
Aliás esse é outro atrativo, a mística do número sete
e tudo ao seu entorno. Sete anos no Tibet, sete noites e sete dias, sete mares naveguei,
sete vidas tem o gato, sete pragas do Egito, sete luas novas...E tudo que está escrito.
São encantos que eu carrego e neles eu acredito. Tenho
receio de regras, imposição e castigo, tenho ficado em silêncio, bem mais do
que eu preciso, tentando adentrar sozinho a sétima porta do paraíso.
Numa manhã de ontem, dia nublado e frio, ouvi o canto
do galo demasiado tardio, arrepiou-me a epiderme o agouro desse episódio,
espiei pela janela o que seria esse alerta, cheguei a sentir ódio do pobre da
sentinela.
Perdeu a hora do tempo, e seu relógio atrasado, não
foi capaz de acordar na hora do tempo marcado. Por instinto soltou um canto um
tanto descompassado, talvez por medo até ser degolado.
Medos e encantos são da nossa marca raiz, importante é
viver a vida como mestre e aprendiz. Respeitar nossos limites e avançar quando der,
ser do nosso tempo atris e ator e se possível feliz...Quando puder.
José Regi